#3 - Agora eu sou adulto... O que eu deveria fazer com essa informação?
Nunca pensei que minha ficha cairia enquanto ouvia Sabrina Carpenter no carro e olhava o céu abrir depois de um chuvisco daqueles que só é percebido por quem anda com a janela aberta, como eu estava no momento.
Naquele instante, percebi que nunca mais teria que entrar em uma escola, não contra minha vontade. E, de repente, a questão passou a ser sobre as histórias que eu crio e não as que eu vejo (ou ouço, como nesse caso), a luta passou a ser entre mim e eu mesmo para descobrir onde me escondi de mim (acredite, é mais confuso para mim do que está sendo para você ler isso).
Então... eu deveria ter respostas, certo?
Tudo parece sem gosto nos dias que correm no fluxo contínuo de uma rotina cheia de coisas que eu deveria fazer e cheia de coisas que eu não gosto de fazer... Onde encontro a "vida" no meio disso? Que castelos eu deveria construir sem ter nenhuma gota de sangue azul?
“Como eu sei se vou ser o bastante?” Não querendo provar nada a ninguém; ser bastante apenas para mim. Ser feliz por dentro?… A incerteza é o que me faz normal. Eu vou conseguir ser o que eu quero ser hoje ou vou viver com o amargor da possibilidade? Ou será que essa é a busca interminável que dá sentido à vida?
De 17 a 18, de 18 a 20 e de 20 ao resto da vida...
“Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim” - Poema, Ney Matogrosso
Uma história interessante sobre a música que eu citei acima: Cazuza escreveu esse poema sem título para sua avó paterna aos 17 anos, ela o guardou até o fim dos seus 100 anos de vida, mesmo após a morte de Cazuza ela não se desfez do poema. Quando foi encontrado após a morte da avó, o poema foi musicado (transformado em música) por Frejat, amigo de Cazuza, e apontou Ney Matogrosso como a única pessoa perfeita para cantá-la.
Essa história me encontrou durante meu tempo de ócio, em um cenário no qual eu não sabia como continuar este texto. Aqui está a resposta, não é olhar para o meu eu adulto e sim questionar o meu eu criança…
Como eu disse semana passada: “todos nós somos monstros criados pelas pessoas em nossa volta e suas crenças numa espécie de guerra eterna”. Agora eu acrescento que parte disso nos faz sermos espelhos que refletimos o amor que aceitamos receber ao longo da vida.
Quando não se cabe mais no colo de ninguém deve-se lembrar de quando coube… de quando limparam suas lágrimas, de quando você desistiu de chorar por conta própria, quando a raladura do chão áspero parou de te impedir de ir comprar sorvete, de quando você guardou seus brinquedos por não ter medo de dormir sozinho…
É nas pequenas partes da evolução pessoal que nasce a coragem de tentar viver… mesmo que hoje ela não seja suficiente para te pôr em pé sem tremer de medo do abismo, mesmo que ela te faça querer regredir pro estado infantil. Essa chama ainda queima dentro de você de alguma forma, ela pode estar escondida, fraca e opaca, mas nunca de fato apagada (talvez eu fale mais sobre o fogo da alma no próximo artigo…).
"Crescer é perder a simplicidade da infância e ganhar a complexidade da loucura." - ???, Alice Madness Returns
“Tire meus olhos, leve-os de lado
Pegue meu rosto e profane
Meus braços e pernas atrapalhamE pegue minhas mãos, elas entenderão
Pegue meu coração, separe-o
E pegue meu cérebro, ou o que resta
E jogue tudo foraPorque eu cansei desse corpo
Um corpo pesado e pesado” - Body, Mother Mother
Esse é o suprassumo de crescer, transformar-se, destruir e desfazer o velho corpo, mesmo que precise fazê-lo literalmente. A alma, o âmago e as memórias são permanentes, mas é preciso espaço, novas palavras, novos pensamentos e expressões, é preciso florescer, explodir de uma forma nuclear… Nós somos colagens e recortes de quem já fomos e de quem já passou pelos nossos corpos, somos imagens abstratas que falam muita coisa de uma vez…
- KCT, Linquei três músicas completamente diferentes na mesma linha de raciocínio! Não sei se fez sentido mas estou orgulhoso de mim agora…
Esse assunto me faz devanear por horas, provavelmente eu faça uma devolutiva sobre isso…
- com amor ao ofício e ao leitor, Wilhelm (0¹⁷).